segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Arrigo Barnabé Clara Crocodilo

Este foi um disco que dividiu as águas da música popular nos anos 80, dividiu, buscou a sua margem, talvez uma terceira, e lá permanece, único. Sem precedentes na MPB, talvez na tropicália encontre suas matrizes; mas o correto é afirmar que desemboca em uma linha evolutiva da música popular brasileira ( expressão usada por Caetano em entrevista na Revista Civilização Brasileira, de 1966, se não me engano), passando pela experiência antropofágica da bossa nova, pelo experimentalismo tropicalista, que de alguma forma se encerra nos anos setenta, para novamente se sentir nas dissonâncias de Clara Crocodilo. falamos aqui da devoração de fortes influências, musicais e literárias, e uma tomada de consciência artística que retoma o caminho do novo, da ruptura com o trivial, a busca do inesperado e do estranhamento.
este é o trabalho de Arrigo em Clara Crocodilo, espécie de disco/gibi cáustico pelo humor e pela dicção expressionista; Acapulco Drive-in, Office-boy, Infortúnio, Sabor de veneno ( com a expectorante Tetê Espíndola, foi defendida em festival da TV TUPI), Diversões eletrônicas e finalmente Clara Crocodilo formam um painel bastante interessante de uma sociedade cuja experiência de vida está totalmente permeada pelos processos culturais de massa: a tv, os quadrinhos e os jogos eletrônicos são os instrumentos necessários para a expressãos dos valores e das emoções.
Arrigo utiliza bem esses elementos nas letras,sempre dramáticas, apropriando-se das formas dialogadas em contraste com os versos; a música com ritmos quebrados, ruído e uma sonoridade que busca o incômodo, o "prazer estético de desagradar"; é um disco da modernidade, que fala de São Paulo, mas fala das metrópoles em que o elemento humano é mais um reles, uma cobaia para novas experiências... excelente trabalho, incomum e sem par na música brasileira; houve quem o aproximasse de Frank Zappa; de fato, são parentes na mesma atitude de incomodar, de ferir o establishment, de desfazer as fronteiras entre popular e erudito... somente assim podemos aproximá-los, nunca por uma influência direta...
Na formação: Otavio Fialho (baixo) Arrigo Barnabé (vocal, piano) Bozzo Barret (teclados) Bi Gibson (guitarra), Paulo Barnabé (bateria), Tetê, Vânia Bastos e Suzana (vocais), Feliz Vagner (marimba, clarinete) ... e mais uma penca de músicos que formam a "Banda Sabor de Veneno"
Tracklist:
1-Acapulco drive-in
2-Orgasmo total
3-Diversões eletrônicas
4-Sabor de veneno
5-Infortúnio
6-Office-boy
7-Clara Crocodilo
8-Instante
vale ouvor também a versão 20 anos depois, ao vivo.i

Nenhum comentário: